Mais de 24.000 médicos abandonaram a Venezuela nos últimos anos, dos quais pelo menos uma centena deles de origem portuguesa.
A Associação de Médicos Luso-venezuelanos (Asomeluve) apelou ao Governo português para que dê "atenção especial" aos profissionais da área da saúde, lusodescendentes, que optam por emigrar para Portugal, fugindo da crise venezuelana.
Carla Dias de Oliveira, nova secretária da associação, médica gastrenterologista, explicou que "muitos deles, altamente qualificados, estão a ser recebidos por outros países" porque ao chegar a Portugal encontram entraves para exercer a sua profissão. A Associação vê com "muita tristeza e preocupação, as histórias de vários colegas médicos" que se queixam de "deslocação forçada, discriminação, exigências e regras muitas vezes lentas e inflexíveis". Há "colegas que têm tentado homologar (os títulos) em Portugal, o que tem sido muito difícil. É muito mais fácil homologar na Espanha que no nosso país, Portugal”. Trata-se – disse – de “uma situação que nos gera muita confusão". A secretária da Asomeluve considera que Portugal só tem a ganhar se ajudar estes lusodescendentes porque "muitos têm credenciais que podem revigorar o sistema de saúde português, as universidades, enriquecer a investigação e os projetos científicos e tecnológicos em todas as especialidades".
"Isto é contraditório e realmente preocupante tendo em conta que Portugal tem acordos, por exemplo, com Cuba, que têm sido criticados por instituições como a Ordem dos Médicos, que são acordos políticos para atenção médica nalgumas regiões de Portugal, mas a um custo elevado no orçamento de saúde", disse Adérito Sousa, presidente da Asomeluve, otorrinolaringologista. Frisou ainda ter recebido queixas de "todos os casos" dos médicos lusodescendentes que tentaram trabalhar em Portugal, independentemente da base de formação dos clínicos, muitos deles com reconhecimento internacional. "Neste momento, todos os casos são tratados da mesma maneira e isso não é justo, porque dentro dessa migração há médicos com elevadas qualificações, professores, investigadores, que fizeram cursos de formação superior em países como os Estados Unidos e a Alemanha, entre outros", disse.
Oliver Gil, um venezuelano que vive em Portugal há dois anos com a mulher, uma luso-descendente, diz que já praticamente não tem amigos em Caracas, onde vivia. "Todas as pessoas que têm alguma possibilidade de sair estão a sair", afirma. O destino dos seus amigos mais próximos foi Miami, Panamá, Madrid, Barcelona, Londres e Austrália. A sua geração, pessoas entre os 28 e os 40 anos, que têm formação, "know-how", experiência, "praticamente todos decidimos sair", diz com tristeza. Há um ano, quando voltou a Caracas, levou uma mala de 23 quilos cheia de medicamentos para a família. E pediram-lhe latas de feijão. Algo que sempre tinha havido à mesa com fartura. "Quando servimos feijão ao jantar para cerca de dez pessoas, houve emoção, parecia que estavam a comer lagosta!" A decisão de vir viver para Lisboa teve um único motivo. Ele e a mulher queriam ser pais e não pretendiam criar os filhos num ambiente onde reina a insegurança.
Ysmiley Lourenço está em Portugal há dez anos. É filha de pais portugueses. A mãe é da ilha da Madeira e o pai da zona de Coimbra. Veio para Lisboa com o marido, venezuelano, já licenciada em Farmácia. Aqui fez uma pós-graduação e tentou trabalhar na sua área de formação. Mas teve tantas dificuldades que acabou por desistir. Há dois anos, abriu um restaurante de comida venezuelana na Estrada de Benfica, o Aripo, que entre outros pratos servia as tradicionais "arepas", uma espécie de pão achatado que é aberto e recheado com vários ingredientes. O estabelecimento foi ponto de encontro de muitas pessoas que vieram da Venezuela para ali matarem saudades dos sabores da sua terra.
Nota: O Aripo está fechado e Ysmiley faz agora parte da equipa de chefs da Supper Stars.
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A Associação de Médicos Luso-venezuelanos (Asomeluve) apelou ao Governo português para que dê "atenção especial" aos profissionais da área da saúde, lusodescendentes, que optam por emigrar para Portugal, fugindo da crise venezuelana.
Carla Dias de Oliveira, nova secretária da associação, médica gastrenterologista, explicou que "muitos deles, altamente qualificados, estão a ser recebidos por outros países" porque ao chegar a Portugal encontram entraves para exercer a sua profissão. A Associação vê com "muita tristeza e preocupação, as histórias de vários colegas médicos" que se queixam de "deslocação forçada, discriminação, exigências e regras muitas vezes lentas e inflexíveis". Há "colegas que têm tentado homologar (os títulos) em Portugal, o que tem sido muito difícil. É muito mais fácil homologar na Espanha que no nosso país, Portugal”. Trata-se – disse – de “uma situação que nos gera muita confusão". A secretária da Asomeluve considera que Portugal só tem a ganhar se ajudar estes lusodescendentes porque "muitos têm credenciais que podem revigorar o sistema de saúde português, as universidades, enriquecer a investigação e os projetos científicos e tecnológicos em todas as especialidades".
"Isto é contraditório e realmente preocupante tendo em conta que Portugal tem acordos, por exemplo, com Cuba, que têm sido criticados por instituições como a Ordem dos Médicos, que são acordos políticos para atenção médica nalgumas regiões de Portugal, mas a um custo elevado no orçamento de saúde", disse Adérito Sousa, presidente da Asomeluve, otorrinolaringologista. Frisou ainda ter recebido queixas de "todos os casos" dos médicos lusodescendentes que tentaram trabalhar em Portugal, independentemente da base de formação dos clínicos, muitos deles com reconhecimento internacional. "Neste momento, todos os casos são tratados da mesma maneira e isso não é justo, porque dentro dessa migração há médicos com elevadas qualificações, professores, investigadores, que fizeram cursos de formação superior em países como os Estados Unidos e a Alemanha, entre outros", disse.
Fugir da Venezuela
Os portugueses e luso-descendentes que deixaram a Venezuela chegam a Portugal de coração partido e com memórias que querem esquecer. A escalada de violência, juntamente com a falta de alimentos e medicamentos, ditaram a decisão de partir. Mas muitos querem voltar assim que for possível.Oliver Gil, um venezuelano que vive em Portugal há dois anos com a mulher, uma luso-descendente, diz que já praticamente não tem amigos em Caracas, onde vivia. "Todas as pessoas que têm alguma possibilidade de sair estão a sair", afirma. O destino dos seus amigos mais próximos foi Miami, Panamá, Madrid, Barcelona, Londres e Austrália. A sua geração, pessoas entre os 28 e os 40 anos, que têm formação, "know-how", experiência, "praticamente todos decidimos sair", diz com tristeza. Há um ano, quando voltou a Caracas, levou uma mala de 23 quilos cheia de medicamentos para a família. E pediram-lhe latas de feijão. Algo que sempre tinha havido à mesa com fartura. "Quando servimos feijão ao jantar para cerca de dez pessoas, houve emoção, parecia que estavam a comer lagosta!" A decisão de vir viver para Lisboa teve um único motivo. Ele e a mulher queriam ser pais e não pretendiam criar os filhos num ambiente onde reina a insegurança.
Ysmiley Lourenço está em Portugal há dez anos. É filha de pais portugueses. A mãe é da ilha da Madeira e o pai da zona de Coimbra. Veio para Lisboa com o marido, venezuelano, já licenciada em Farmácia. Aqui fez uma pós-graduação e tentou trabalhar na sua área de formação. Mas teve tantas dificuldades que acabou por desistir. Há dois anos, abriu um restaurante de comida venezuelana na Estrada de Benfica, o Aripo, que entre outros pratos servia as tradicionais "arepas", uma espécie de pão achatado que é aberto e recheado com vários ingredientes. O estabelecimento foi ponto de encontro de muitas pessoas que vieram da Venezuela para ali matarem saudades dos sabores da sua terra.
Nota: O Aripo está fechado e Ysmiley faz agora parte da equipa de chefs da Supper Stars.
Recolha de medicamentos para a Venezuela
A Venexos é uma organização não governamental que apoia quem chega a Portugal vindo da Venezuela. A associação está a enviar medicamentos em pequenas quantidades para não serem retidos pelas autoridades e chegarem às mãos certas. A Venexos está a receber muitos "pedidos de ajuda de pessoas que ainda estão na Venezuela e que querem vir para Portugal". Algumas nem estão ligadas à comunidade portuguesa. Muitos dos que estão a chegar ao nosso país têm formação superior. São advogados, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, informáticos. E vão sobretudo para a Madeira, de onde é oriunda 80% da comunidade portuguesa na Venezuela. Mas também se está a formar uma comunidade na região de Aveiro e em Lisboa.Ligações
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