Quase todos os cantinhos do país têm o seu sotaque/pronúncia. Os linguistas defendem que o "falar do norte" é o mais próximo do original.
Para além da pronúncia uma outra particularidade, principalmente portuense, e nem sempre bem entendida por quem chega, é o modo (talvez demasiado) descomplexado como são utilizadas palavras e expressões que noutra qualquer região do país serão tidas como insultos ou palavrões.
Não é invulgar ouvir um amigo dizer a outro, dando-lhe uma palmada nas costas: "Dá cá um abraço, meu filho da p...". Para os "tripeiros" esta é uma expressão de carinho que demonstra a confiança que se tem no amigo, a intimidade entre os dois. Da mesma forma pode ouvir-se um pai chamar pelo filho usando a expressão "Anda cá meu grande cabrão". Normalmente os palavrões com que se presenteiam os amigos e os familiares mais íntimos são precedidos de um meu/minha que logo ali declara o sentimento de posse, de pertença. Claro está que se a mesma expressão for usada para chamar um estranho o significado é completamente diferente. Tanto para o tripeiro como para o estranho... bem entendido.
"adianta um grosso" - não vale de nada
"alapar" - sentar
"andar a butes" - andar a pé
"andar de cu tremido" - andar de carro
"briol" - frio
"broeiro" - pessoa rude
"nasceste de cu p'rá lua" - tens sorte
"sertã" - frigideira
"testo" - tampa do tacho ou da panela
"trolha" - pedreiro
"vai no batalha" - é mentira
"vergar a mola" - trabalhar
Mais expressões que se usam no Porto:
aloquete - cadeado
à minha beira - ao pé de mim
amarfanhar - apertar muito alguma coisa
andor violeta (bioleta) - desaparece-me da frente
arrotar postas de pescada - gabar-se
axantra! - acalma-te!
basqueiro - muito barulho
bico de pato - pão de leite
boeiro - sarjeta
boa com'ó milho - diz-se de uma mulher jeitosa, com o corpo bem feito
bujão - rabo
bulir - mexer (alapa-te aí e não bulas em nada! = senta-te aí e não mexas em nada!)
chuço - guarda-chuva
cruzeta - cabide
dar corda aos vitorinos - ir embora
dar um treco/fanico/badagaio - desmaiar, sentir-se mal
encher a mula - comer
esbardalhar-se - cair
estar com o toco/ estar com o tau - estar aborrecido
estar de trombas - estar amuado
estás a meter verdete - estás a aborrecer, a incomodar
estrugido - refogado
fino como um alho - esperto
jeco - cão
ladra baixo - fala baixo
lapada - estalo, bofetada
lorpa - parvo, idiota
mandar bitaites - dar palpites
morcão - parvo, idiota
morfar - comer
picheleiro - canalizador
sameira - cápsula (de refrigerante)
sostra - preguiçosa(o)
trengo - parvo, idiota
vagem - feijão verde
vai no Batalha! - é mentira! (o Batalha era uma sala de cinema na cidade do Porto, provavelmente a expressão quer dizer que "é filme")
vidrinho de cheiro - alguém que se ofende com facilidade
O professor portuense João Carlos Brito, licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas Modernas, pôs mãos à obra e publicou já vários livros que reúnem palavras e expressões do Porto.
livros de João Carlos Brito:
Heróis à Moda do Porto
Lugares e Palavras do Porto
Dicionário de Calão do Porto
Francesinhas à Moda do Porto
Dicionário PORTOguês - Inglês
entre outros
Há um prenúncio de morte
Lá do fundo donde eu venho
Os antigos chamam-lhe relho
Novos ricos são má sorte
É a pronúncia do Norte
Os tontos chamam-lhe torpe
Hemisfério fraco outro forte
Meio-dia não sejas triste
A bússola não sei se existe
E o plano talvez aborte
Nem guerra, bairro ou corte
É a pronúncia do Norte
É um prenúncio de morte
Corre o rio para o mar
Não tenho barqueiro
Nem hei-de remar
Procuro caminhos
Novos para andar
Colheste os ramos
Onde pousavam
Da geada, ás pérolas
As fontes secaram
Corre o rio para o mar
E há um prenúncio de morte
E as teias que vidram
Nas janelas
Esperam um barco
Parecido com elas
Não tenho barqueiro
Nem hei-de remar
Procuro caminhos
Novos para andar
É a pronúncia do Norte
Corre o rio para o mar
...
reportagem TVI, 2014, no canal YouTube Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Na novela "Coração d'Ouro", SIC, 2015, Luciana Abreu dá vida a Sandra Moita, uma Youtuber (muito) do Norte.
Para além da pronúncia uma outra particularidade, principalmente portuense, e nem sempre bem entendida por quem chega, é o modo (talvez demasiado) descomplexado como são utilizadas palavras e expressões que noutra qualquer região do país serão tidas como insultos ou palavrões.
Não é invulgar ouvir um amigo dizer a outro, dando-lhe uma palmada nas costas: "Dá cá um abraço, meu filho da p...". Para os "tripeiros" esta é uma expressão de carinho que demonstra a confiança que se tem no amigo, a intimidade entre os dois. Da mesma forma pode ouvir-se um pai chamar pelo filho usando a expressão "Anda cá meu grande cabrão". Normalmente os palavrões com que se presenteiam os amigos e os familiares mais íntimos são precedidos de um meu/minha que logo ali declara o sentimento de posse, de pertença. Claro está que se a mesma expressão for usada para chamar um estranho o significado é completamente diferente. Tanto para o tripeiro como para o estranho... bem entendido.
Expressões portuenses
"acordar de cu p'ró ar" - acordar mal disposto"adianta um grosso" - não vale de nada
"alapar" - sentar
"andar a butes" - andar a pé
"andar de cu tremido" - andar de carro
"briol" - frio
"broeiro" - pessoa rude
"nasceste de cu p'rá lua" - tens sorte
"sertã" - frigideira
"testo" - tampa do tacho ou da panela
"trolha" - pedreiro
"vai no batalha" - é mentira
"vergar a mola" - trabalhar
Mais expressões que se usam no Porto:
aloquete - cadeado
à minha beira - ao pé de mim
amarfanhar - apertar muito alguma coisa
andor violeta (bioleta) - desaparece-me da frente
arrotar postas de pescada - gabar-se
axantra! - acalma-te!
basqueiro - muito barulho
bico de pato - pão de leite
boeiro - sarjeta
boa com'ó milho - diz-se de uma mulher jeitosa, com o corpo bem feito
bujão - rabo
bulir - mexer (alapa-te aí e não bulas em nada! = senta-te aí e não mexas em nada!)
chuço - guarda-chuva
cruzeta - cabide
dar corda aos vitorinos - ir embora
dar um treco/fanico/badagaio - desmaiar, sentir-se mal
encher a mula - comer
esbardalhar-se - cair
estar com o toco/ estar com o tau - estar aborrecido
estar de trombas - estar amuado
estás a meter verdete - estás a aborrecer, a incomodar
estrugido - refogado
fino como um alho - esperto
jeco - cão
ladra baixo - fala baixo
lapada - estalo, bofetada
lorpa - parvo, idiota
mandar bitaites - dar palpites
morcão - parvo, idiota
morfar - comer
picheleiro - canalizador
sameira - cápsula (de refrigerante)
sostra - preguiçosa(o)
trengo - parvo, idiota
vagem - feijão verde
vai no Batalha! - é mentira! (o Batalha era uma sala de cinema na cidade do Porto, provavelmente a expressão quer dizer que "é filme")
vidrinho de cheiro - alguém que se ofende com facilidade
O professor portuense João Carlos Brito, licenciado em Línguas, Literaturas e Culturas Modernas, pôs mãos à obra e publicou já vários livros que reúnem palavras e expressões do Porto.
"João Carlos Brito 'fica com o toco' por não haver mais gente a estudar este património linguístico, coisa que já faz há mais de 20 anos. Em 2010 publicou o livro Heróis à Moda do Porto, “uma brincadeira” já com alguns vocábulos do Porto, mas sem o rigor científico de Lugares e Palavras do Porto. No livro também se encontram histórias, memórias e metáforas, mas o dicionário de “Portoguês” é o grande destaque."
in Observador, 2014
livros de João Carlos Brito:
Heróis à Moda do Porto
Lugares e Palavras do Porto
Dicionário de Calão do Porto
Francesinhas à Moda do Porto
Dicionário PORTOguês - Inglês
entre outros
Rui Reininho (GNR) e Isabel Silvestre cantam a Pronúncia do Norte, na noite de S. João 2017, na cidade do Porto
Há um prenúncio de morte
Lá do fundo donde eu venho
Os antigos chamam-lhe relho
Novos ricos são má sorte
É a pronúncia do Norte
Os tontos chamam-lhe torpe
Hemisfério fraco outro forte
Meio-dia não sejas triste
A bússola não sei se existe
E o plano talvez aborte
Nem guerra, bairro ou corte
É a pronúncia do Norte
É um prenúncio de morte
Corre o rio para o mar
Não tenho barqueiro
Nem hei-de remar
Procuro caminhos
Novos para andar
Colheste os ramos
Onde pousavam
Da geada, ás pérolas
As fontes secaram
Corre o rio para o mar
E há um prenúncio de morte
E as teias que vidram
Nas janelas
Esperam um barco
Parecido com elas
Não tenho barqueiro
Nem hei-de remar
Procuro caminhos
Novos para andar
É a pronúncia do Norte
Corre o rio para o mar
...
0 comentários:
Enviar um comentário